A exoneração do presidente da Sociedade Anônima de Água e Esgoto do Crato (SAAEC), Rildo Feitosa, foi oficializada de forma discreta no Diário Oficial do Município (DOM). O Decreto nº 114/2025, publicado em 7 de novembro de 2025, revoga o Decreto nº 21/2025, de 21 de março do mesmo ano — ato que havia nomeado Rildo para o cargo.
Apesar de a exoneração estar claramente registrada, o documento não cita o nome do presidente exonerado, o que tem gerado críticas e levantado suspeitas de tentativa de omitir a demissão. O decreto simplesmente “revoga” o anterior, sem menção nominal, o que, para muitos, parece uma forma de encobrir a retirada de Rildo Feitosa do comando da autarquia.
A decisão vem logo após Rildo Feitosa fazer um duro pronunciamento na Câmara Municipal do Crato, denunciando o colapso financeiro da SAAEC após o contrato de concessão com a Ambiental Crato, firmado ainda na gestão do ex-prefeito Zé Ailton Brasil, com participação do então vice-prefeito e atual gestor, André Barreto Esmeraldo, além do atual presidente da Câmara, Matheus Leite.
Segundo Rildo, o contrato representou a perda total da autonomia administrativa e financeira da SAAEC, que passou a depender da empresa privada até para movimentar suas receitas.
“Pegamos tudo o que tinha sido investido na rede de esgoto do Crato, que não são poucos milhões, e demos de mão beijada para a Ambiental Crato. Ela não pagou um centavo por essa rede”, declarou Rildo.
O ex-presidente denunciou ainda que a autarquia perde cerca de R$ 2,5 milhões anuais em arrecadação, e ainda paga R$ 1,7 milhão por ano à Ambiental Crato por “serviços compartilhados”.
“O coração da empresa — o caixa — está nas mãos deles. Eles recebem e repassam quando querem. Tem dia que não repassam nada. Em julho, por exemplo, houve três dias sem repasse, e até hoje não sabemos onde foi parar o dinheiro”, afirmou.
O contrato de concessão — confirmado pela Concorrência Pública nº 2021.11.03.2 — transfere à Ambiental Crato não apenas o serviço de esgoto, mas a gestão comercial de todo o sistema de saneamento, incluindo faturamento, cobrança e controle de arrecadação. Na prática, isso significa que a concessionária opera o caixa da SAAEC, algo inédito no Ceará e alvo de críticas por comprometer a independência da empresa pública.
Rildo também destacou que a SAAEC passou a pagar R$ 117 mil mensais por um serviço que, segundo ele, “tira a autonomia da autarquia”.
“O cadastro de clientes, que a SAAEC construiu em 63 anos, foi entregue para eles. Hoje só podemos olhar como um espelho. Não temos acesso direto”, disse.
A polêmica cresce diante do fato de o Crato ser a única cidade do Ceará que, ao aderir ao modelo do novo Marco do Saneamento, incluiu a gestão comercial no pacote de concessão — algo que levantou suspeitas sobre os reais interesses políticos e econômicos por trás do acordo.
Enquanto isso, moradores seguem reclamando de falta d’água, lentidão no atendimento e precariedade nos serviços.
Apesar de evitar citar nomes, Rildo chamou o contrato de “nocivo ao Crato”, pedindo apoio da população e da Câmara para reverter o cenário:
“O Crato está pagando um preço alto por uma decisão errada. Precisamos resolver isso com o apoio da população e dos vereadores.”
A exoneração do presidente, sem justificativa pública e sem menção direta ao seu nome, ocorre justamente no auge de suas críticas à parceria entre a SAAEC e a Ambiental Crato — o que reforça a percepção de que Rildo Feitosa foi silenciado após expor problemas graves na gestão do saneamento do município
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