A tradicional Banda de Música do Crato, patrimônio cultural com 144 anos de história e prestes a completar 145 anos em novembro, decretou greve nesta terça-feira (26). A decisão foi tomada em assembleia da categoria após anos de promessas não cumpridas pela Prefeitura, que, segundo os músicos, trata a instituição como “peça política” e não respeita os direitos adquiridos.
A paralisação já tem efeito imediato: os músicos confirmaram que não tocarão no dia 29 de agosto, dentro da programação da Festa de Nossa Senhora da Penha, padroeira do Crato.
Principais reivindicações da Banda de Música
Progressões salariais não pagas
Servidores concursados desde 2001 acumulam até 8 progressões previstas em lei, mas nenhuma foi implementada. Muitos músicos já têm mais de 30 anos de serviço sem reconhecimento da evolução profissional.Insalubridade e PCCR ignorados
Apesar de exames médicos comprovarem perda auditiva em vários integrantes, a Prefeitura se recusa há 3 anos a cumprir o Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração (PCCR), aprovado em 2022.Fardamento em estado precário
O último fardamento foi entregue há 8 anos. Atualmente, os músicos se apresentam com roupas compradas por conta própria, sem uniforme adequado para desfiles ou apresentações oficiais.Instrumentos deteriorados
Os instrumentos têm em média 30 anos de uso. Muitos já causam problemas físicos aos músicos, como lesões nos tendões. Mesmo com R$ 100 mil previstos na LOA, nenhum investimento foi feito.Falta de material básico
Palhetas, óleo lubrificante e demais insumos são praticamente inexistentes. Os músicos se revezam com o pouco que conseguem comprar, o que prejudica a rotina de ensaios e apresentações.Carga excessiva de trabalho
A Banda é escalada para inúmeros eventos nos fins de semana, muitas vezes a serviço de vereadores e ex-vereadores, sem receber horas extras ou direito ao descanso previsto no PCCR.Tombamento inócuo
Embora exista lei que reconheça a Banda como patrimônio tombado, não há previsão de verba específica para sua manutenção, tornando o título apenas simbólico.
Negociações sem avanço
Os músicos relatam que já se reuniram diversas vezes com a Procuradoria do Município, secretários de Cultura (atuais e anteriores), chefes de gabinete e até com o prefeito atual e o anterior. Porém, a resposta da gestão se limita a dizer que está “avaliando” as demandas.
Recentemente, o prefeito solicitou ofício do sindicato para formalizar as reivindicações. O documento foi entregue, mas a Prefeitura informou que só dará resposta no dia 3 de setembro, depois da festa da Padroeira — na prática, uma negação de diálogo imediato.
Cultura em risco no Crato
A decisão de paralisar não foi fácil. A Banda de Música é parte da identidade cultural do Crato, acompanhando gerações em desfiles cívicos, eventos religiosos e manifestações populares. No entanto, os músicos afirmam que não há mais condições de seguir trabalhando sem dignidade.
Com a greve, os últimos dias da festa de Nossa Senhora da Penha acontecerão sem a presença da Banda de Música, um duro golpe à tradição do município.